Independência, Liberdade, Democracia – ou Morte!

Por: Sérgio Pinto Monteiro 6 de setembro de 2024

No Brasil, a data de 7 de Setembro de 1822 registra a Declaração de Independência do país ao Império Português. O Grito do Ipiranga, real ou simbólico, representa, sobretudo, a força de um povo cujo sentimento nativista surgiu quase duzentos anos antes, a partir dos combates que culminaram com a expulsão do invasor holandês no século XVII, primeiro na Bahia e, logo depois, em Pernambuco. No manifesto denominado Compromisso Imortal, de 23 de Maio de 1645, em que, pela primeira vez em documento foi usada a palavra PÁTRIA, brancos, negros e índios, unidos, reafirmaram o seu inabalável propósito de vencer os invasores, o que culminou com as sucessivas vitórias nos combates dos Montes Guararapes, a última delas em 1649, origem gloriosa do Exército Brasileiro.

Na madrugada daquele 7 de Setembro, o jovem Príncipe Regente D. Pedro, 23 anos, em escala de viagem a São Paulo, partiu de Santos onde fora vistoriar as seis fortalezas da região, acompanhado, além de uma pequena guarda de honra, do seu “secretário” Luís Saldanha da Gama, do fiel escudeiro Chalaça (Francisco Gomes da Silva), do Coronel Marcondes, do amigo padre Belchior – sobrinho de José Bonifácio – e dos serviçais João Carvalho e João Carlota. No final da manhã, ao subir uma colina íngreme e sinuosa conhecida como Calçada do Lorena, a caravana foi interceptada por dois emissários vindos do Rio de Janeiro. O Major Antônio Cordeiro e o oficial da Corte Paulo Bregaro traziam mensagens urgentes de D. Leopoldina e do ministro José Bonifácio. As cortes portuguesas haviam emitidos decretos reduzindo drasticamente os poderes e atribuições de D. Pedro, sinalizando que iriam destituí-lo da condição de Príncipe Regente. As mensagens da esposa e do ministro eram contundentes, estimulando D. Pedro a se rebelar contra essas decisões. Bonifácio, ao mencionar que uma esquadra partira de Lisboa para subjugar os brasileiros rebelados, enfático, escreveu: “Senhor, o dado está lançado e de Portugal não temos a esperar senão escravidão e horrores”. D. Leopoldina, inconformada, assinalava: “Senhor, o pomo está maduro, colhe-o já!” O que aconteceu em seguida, historicamente retratado no famoso quadro de Pedro Américo, na versão narrada pela testemunha ocular padre Belchior, em seu relato escrito em 1826, não teria havido o famoso Grito. Já outra testemunha, o tenente Canto e Melo, muitos anos depois, afirma que D. Pedro, após a leitura das mensagens, teve “um momento de reflexão”, seguindo-se a fala ríspida “É tempo! Independência ou Morte”. Uma terceira testemunha, o Coronel Marcondes – que não estava na colina do Ipiranga – se encontrava, com parte da guarda, numa venda próxima do córrego, a chamada “Casa do Grito”, relata que, de repente, o vigia anunciou a aproximação de D. Pedro:

“Compreendi o que aquilo queria dizer e, imediatamente, mandei formar a guarda para receber D. Pedro, que devia entrar na cidade entre duas alas. Mas tão apressado vinha o príncipe, que chegou antes que alguns soldados tivessem tempo de alcançar as selas. Havia de ser quatro horas da tarde, mais ou menos. Vinha o príncipe na frente. Vendo-o voltar-se para o nosso lado, saímos ao seu encontro. Diante da guarda, que descrevia um semicírculo, estacou o seu animal e, de espada desembainhada, bradou: – Amigos! Estão, para sempre, quebrados os laços que nos ligavam ao governo português! E viva o Brasil livre e independente!, gritou D. Pedro. Ao que, desembainhando também nossas espadas, respondemos: – Viva o Brasil livre e independente! Viva D. Pedro, seu defensor perpétuo! E bradou ainda o príncipe: – Será nossa divisa de ora em diante: Independência ou Morte! Por nossa parte, e com o mais vivo entusiasmo, repetimos: – Independência ou Morte!

Em seu relato, o padre Belchior também narra esse segundo momento do histórico episódio, embora com mais detalhes do que a descrição do Cel Marcondes.

Neste 7 de Setembro, milhões de compatriotas certamente estarão nas ruas. Há uma grave crise em curso no país. Ameaças explícitas – e outras difusas – rondam a nação. A liberdade e a democracia que, ao longo da história, tanto defendemos como essenciais à vida em sociedade, estão sob o ataque de inimigo traiçoeiro que usa conhecidas ferramentas, típicas de regimes autoritários, para suprimi-las. Pátria, Povo, Liberdade e Soberania são quadrigêmeos inseparáveis. E comemorar a nossa data magna é um dever de todo cidadão brasileiro, assim como lutar – sempre e muito – pela preservação dos valores éticos, cívicos, morais e religiosos, sob os quais nossos antepassados edificaram a PÁTRIA AMADA, BRASIL.

“…OU FICAR A PÁTRIA LIVRE OU MORRER PELO BRASIL.”

Sérgio Pinto Monteiro é oficial da reserva do Exército, professor, historiador e tem 84 anos. É fundador e Patrono do Conselho Nacional de Oficiais da Reserva. Presidente da Liga da Defesa Nacional/RJ e do Conselho Deliberativo da Associação Nacional dos Veteranos da FEB. É membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil, da Academia Brasileira de Defesa e do Instituto Histórico de Petrópolis.

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