Sempre soubemos que o Clube Militar teve uma ligação de origem com a questão da libertação dos escravos em nossas terras. O dia 13 de maio, quando comemoramos a centenária data de assinatura da Lei Áurea, que finalizou a escravidão no Brasil, é propício para relembrarmos como sempre estivemos preocupados e atuantes nas grandes causas nacionais.
Como isso se deu? O que a História patenteia para nós a respeito? Vamos nos valer da própria história do Clube para trazer a todos o valioso episódio.
“A fundação do Clube Militar, em 26 de junho de 1887, está intimamente ligada ao problema nacional da abolição da escravatura.
A própria Questão Militar, um dos marcos na queda do Império, envolveu a punição imposta ao Ten Cel Sena Madureira, então Comandante da Escola de Tiro de Campo Grande, por ter o mesmo homenageado um jangadeiro cearense, Francisco Nascimento, que liderou um movimento dos jangadeiros que se recusaram a transportar escravos do Ceará para outras províncias.
Ainda no ano de sua fundação, em 26 de outubro, o Presidente do Clube Militar endereçou à Princesa Regente uma petição solicitando que o Exército não fosse usado como “capitão do mato” na captura de escravos foragidos:
“Senhora,
Os oficiais, membros do Clube Militar, pedem a Vossa Alteza Imperial vênia para dirigir ao Governo Imperial um pedido, que é antes uma súplica…
… a liberdade é o maior bem que possuímos sobre a terra; uma vez violado o direito que tem a personalidade de agir, o homem para reconquistá-la é capaz de tudo; de um momento para outro ele, que antes era um covarde, torna-se um herói…
… em todos os tempos os meios violentos de perseguição não produziram nunca o desejado efeito.
É impossível, Senhora, esmagar a alma humana que quer ser livre.
Por isso, os membros do Clube Militar, em nome dos mais santos princípios de humanidade… esperam que o Governo Imperial não consinta que os oficiais e as praças do Exército sejam desviados de sua nobre missão. Se se tratasse de uma sublevação de escravos que ameaçasse a tranqüilidade das famílias, que trouxessem a desordem, acreditai que o Exército havia de manter a ordem. Mas diante de homens que fogem, calmos, sem ruído, evitando tanto a escravidão como a luta e dando ao atravessar cidades exemplos de moralidade, cujo esquecimento tem feito muitas vezes a desonra do Exército mais civilizado, o Exército brasileiro espera que o Governo Imperial lhe concederá o que respeitosamente pede em nome da honra da própria bandeira que defende…”
O Governo Imperial cedeu. No entanto, apesar de manifestações abolicionistas em praça pública, e do projeto de “extinção completa do braço escravo” do Senador Souza Dantas, o ano de 1887 acabou sem uma solução para tão nobre causa.
A Princesa Isabel, ainda no exercício da Regência, assinaria a Lei Áurea em 13 de maio de 1888, libertando os escravos em todo o território nacional e, como conseqüência, perdendo o apoio do último esteio que sustentava o Império, os proprietários rurais.”
O relato acima nos cientifica da maneira respeitosa, altruísta e eficiente que usou o Clube Militar para agir diante de um dos problemas mais importantes de nossa História.
Ali começava o destino maior dessa invulgar instituição nacional, diuturnamente, vocacionada para defender os interesses do Brasil.
Detalhes da Obra
- Nome da Pintura: Liberdade
- Ano: 2013
- Artista: Fátima Gomes
- Técnica: Óleo sobre tela
- Coleção Acervo Cultural do Clube Militar