A Carta de Moniz Barreto

Por: Clube Militar 2 de maio de 2023

O jornalista e crítico literário português Guilherme Joaquim de Moniz Barreto (Goa, 1863 – Paris, 1896) esteve no Brasil logo após a Proclamação da República, ocorrida em 1889.

Na oportunidade, teve contato com as tropas brasileiras e impressionou-se com a abnegação e vocação daqueles comprometidos profissionais. Ao El-Rei de Portugal, Dom Carlos I, em 1893, escreveu uma carta na qual assim retratou os militares:

Senhor, umas casas existem no vosso reino, onde homens vivem em comum, comendo do mesmo alimento, dormindo em leitos iguais. De manhã, a um toque de corneta se levantam para obedecer. De noite, a outro toque de corneta se deitam, obedecendo. Da vontade fizeram renúncia como da Vida. Seu nome é Sacrifício. Por ofício desprezam a morte e o sofrimento físico.
Seus pecados mesmos são generosos, facilmente esplêndidos. A beleza de suas ações é tão grande que os poetas não se cansam de a celebrar.
Quando eles passam juntos fazendo barulho, os corações mais cansados sentem estremecer alguma coisa dentro de si. A gente conhece-os por militares…
Corações mesquinhos lançam-lhes em rosto o pão que comem; como se os cobres do pré pudessem pagar a Liberdade e a Vida.
Publicistas de vista curta acham-nos caros demais, como se alguma coisa houvesse mais cara que a servidão.
Eles, porém, calados, continuam guardando a Nação do estrangeiro e de si mesma.
Pelo preço de sua sujeição, eles compram a liberdade para todos e a defendem da invasão estranha e do julgo das paixões.
Se a força das coisas os impede agora de fazer em rigor tudo isto, algum dia o fizeram, algum dia o farão.
E, desde hoje, é como se o fizessem.
Porque, por definição o homem da guerra é nobre.
E quando ele se põe em marcha, à sua esquerda vai a coragem, e à sua direita a disciplina.

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