Até 2006, Paulo Cesar de Araújo alternava-se entre o jornalismo, a história e o magistério, apesar de há quinze anos pesquisar um dos grandes fenômenos sociais brasileiros: o cantor Roberto Carlos. Após realizar quase duzentas entrevistas, em dezembro daquele ano resolveu publicar Roberto Carlos em Detalhes, biografia não autorizada que transformaria a sua vida.
Com leveza estilística, rigor histórico, profundidade e fluência, as quinhentas e quatro páginas do livro alcançaram imediato sucesso, elogiado por críticos e leitores. Exceto pelo protagonista, que recorreu aos tribunais para contestar-lhe a validade, exigindo indenização vultosa, prisão do Autor e recolhimento dos exemplares em circulação, atitudes destoantes da reconhecida tolerância e simpatia midiática do biografado.
Vida que segue, marcada audiência de conciliação em São Paulo, o Rei, irredutível, sustentou a tese de que “a vida dele representava patrimônio do seu intransferível domínio”, argumento que, em 2015, o plenário do STF derrubaria pela unanimidade de 9×0, acompanhada de frase emblemática da Ministra Carmen Lúcia: “o cala a boca morreu”. A sentença derrogava viés patrimonialista dominante, porque, interpessoal e humana, obviamente a história dispensa feudos narrativos, sendo de inexorável construção através de múltiplos personagens.
Findo o processo, entre liberar milhares de exemplares apreendidos e reescrever a densa biografia, o Autor escolheu a segunda hipótese, desta vez incluindo passagens e circunstâncias inéditas. Agora sem medo nem censura, Roberto Carlos Outra Vez 1 (1941-1970), lançado em 2021, com o segundo volume a ser publicado em 2024 (1971-2023), traçam perfil ainda mais acurado do antigo garoto de Cachoeiro de Itapemirim.
Interessante esclarecer que Paulo Cesar de Araújo não é autor de obra singular, pois aborda com propriedade aspectos distintos ao grande público sobre diversos intérpretes populares. Em Não Sou Cachorro Não, por exemplo, explora o universo dos chamados artistas bregas nos anos 1970, extraindo conclusões interessantes daquele período.
Ao contextualizar letras de canções do Rei, além de desvendá-las de imperceptíveis inspirações autorais, ele eleva Roberto ao nível de único artista brasileiro que conseguiu incorporar o romantismo dos tradicionais cantores da Era do Rádio, a rebeldia roqueira de Elvis Presley e a suavidade bossanovista de João Gilberto.
A vastidão do conhecimento, o domínio de palco, o carisma, a bem-humorada e oportuna abordagem de acontecimentos e fatos, valorizaram a palestra de Paulo Cesar ao Curso de Extensão Cultural da Mulher do Clube Militar em 5 de abril. Entusiasmadas, as alunas pleiteiam o seu breve retorno à programação do Curso. Quem sabe?