Luiz Américo Lisboa Júnior
Historiador
Ivete Sangalo foi muito infeliz ao xingar o presidente, outros desejam-lhe a morte todos os dias, mas nestes tempos neuróticos que estamos vivendo as pessoas dizem “mas o Bolsonaro falou isso e aquilo” e aí se sentem aliviadas porque afinal estão respondendo no mesmo tom as ofensas recebidas. Isso é uma estupidez. Nos meus mais de 35 anos de atividade acadêmica nunca presenciei esse ódio jacobino todo, apesar de sabê-lo latente, e olhe que quase a totalidade dos professores são de esquerda.
Num seminário na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, no curso de história em novembro de 2018 logo após a eleição de Bolsonaro uma professora brasileira doutora, foi realizar uma palestra sobre os últimos 30 anos do Brasil, porém, o seu foco o tempo todo se centrou em Bolsonaro e os termos foram de misógino – o genocida foi uma criação posterior – pra lá e ele nem tinha assumido ainda, e isso se replicou como uma ordem unida organizada por todas as universidades estrangeiras e brasileiras, portanto, foi a esquerda que ficou neurótica desde o primeiro momento, porque quando viu a possibilidade real da perda do protagonismo politico e intelectual entrou em pânico e foi a loucura. Neste mesmo seminário – diga-se de passagem, na época Lula estava preso – o nome dele não foi citado.
Ora, estávamos num seminário de História luso brasileiro e o corte temporal da palestra eram os últimos 30 anos do Brasil e não os próximos 30 anos, porque somos historiadores, não videntes. Quando foi dada a palavra aos presentes para questionamentos eu me habilitei logo, e fiz mostrar a professora, a plateia e aos professores a maioria portugueses, que Lula estava preso e demonstrei o porquê, falei do mensalão, petrolão, impedimento da Dilma, apresentei números da Lava Jato, o legado de miséria social e econômica com a destruição do tecido social brasileiro e o prejuízo moral provocado ao país pelo petismo, tudo demonstrado a luz da história com fontes irrefutáveis.
Depois da minha argumentação fiz então a pergunta: onde estavam a academia e os intelectuais de esquerda brasileiros que não se indignaram como ela estava se indignando naquele momento com tantas provas da degradação moral provocada ao país pelo petismo e seus sócios, e porque a professora não mencionou a tragédia da corrupção petista já que estávamos falando sobre os últimos 30 anos, mais da metade deles com o PT no poder? O constrangimento foi visível, a resposta veio com evasivas e um pitada de ironia misturada com revolta e agressão bem educada, reação típica de quem não tem argumentos e achava que ia encontrar um palco com seu público permanente de plantão, ou seja, não respondeu e ficou desconcertada, um vexame.
Digo isso, para demonstrar uma realidade, e como historiador uma constatação: primeiro não existe polaridade hoje no país e sim democracia com opiniões divergentes – evidentemente acaloradas – nunca aceitas pela esquerda porque sempre quis impor a ditadura do pensamento único, fato amplamente documentado. Segundo, porque o maior legado de Bolsonaro não serão estradas, pontes etc, mas a retirada da esquerda do armário com sua hipocrisia travestida de bom mocismo e virtuosidade e o retorno do pensamento conservador no Brasil, incluindo o debate de alto nível, a democracia como alternância de poder e o respeito as liberdades e ao contraditório. Isso sim é a maior raiva da esquerda porque a atingiu mortalmente. O Brasil mudou e o esperneio dos que não acompanham mudanças históricas é fruto dessa negação, portanto, quem é negacionista é a esquerda com seus pensamentos retrógrados, analógicos e anacrônicos. A esquerda pensa em preto e branco, a direita olha para o futuro.