Blog Conexão Minas
Óbvio que não dá para aplaudir atos de vandalismo por qualquer motivo que seja e o que aconteceu no domingo (8) em Brasília é lamentável e inaceitável. Se jamais aceitei quebradeira de esquerda, então não tenho também porque fazer o mesmo pela direita. Deixemos a hipocrisia para os Che Guevaras de apartamento, aquela turma que faz boquinha de Barroso para falar da violência dos outros, mas chega às lágrimas quando é perpetrada pelo lado deles. Prezemos e mantenhamos a coerência, portanto. Não sejam um Guilherme Boulos de sinal trocado.
Consideração feita ao bom senso, vamos a uma análise realmente séria do assunto. Porque a partir de agora a grande questão sobre as manifestações de domigo não está apenas na investigação dos seus protagonistas, mas na honestidade com que será tratada esta investigação, e na guerra de narrativas sucedente. Obviamente a imprensa vendida já tem a história montada e é a pior possível. Martela-a de forma intensa desde domingo, provocando mais confusão do que esclarecimento, e botando tudo a perder como sempre.
Nosso jornalismo é pródigo em fazer diagnósticos equivocados e nosso país é campeão em optar sempre pelos remédios errados. Uma combinação desastrosa. Tudo o que eu li até agora é preocupante, pois só comprova que o novo governo, a mídia, e o judiciário, ainda não entenderam a raiz e muito menos a extensão do problema que tem em mãos. Cometem vários erros e não haverá livro no futuro, arrisco estantes inteiras, que darão conta de todos os erros somados em apenas 24 horas de cobertura midiática. No momento aponto apenas quatro.
O primeiro erro é tratar manifestante como terrorista. Esta narrativa em curso é de uma irresponsabilidade absurda. Assim como não foi inteligente chamar Bolsonaro de genocida, é burrice sem tamanho atribuir terrorismo às tias do zap. Terrorismo é crime e falsa imputação de crime também é. Colocar pais de família de camisa amarela que se filmaram nas invasões no mesmo patamar de homens-bomba que agem em segredo no Oriente Médio é exagero que beira o ridículo, quando não apenas à manipulação midiática canalha. Sem falar que mentir sobre a intenção e a potência do adversário só aumenta a sensação de injustiça e funciona como gasolina no fogo do ódio alheio.
Este discurso pode transformar gente comum, manifestante pacífico de momento, em um inimigo iracundo para uma vida toda. O jornalismo e o país deveriam ter aprendido com os erros de passado recente, mas parece que está todo mundo ainda embebido em cegueira ideológica. Somos um país sem adultos na sala há pelo menos quatro anos. O resultado disso não será bom para AMBOS os lados. Já não está sendo. Os influencers que agora se sentem seguros em exagerar, mentir, e perseguir, apenas porque estão momentaneamente no poder, não leram direito os livros de história.
O poder muda de mãos mais rápido do que se imagina e a memória quando alimentada pelo ódio é quase eterna. Sem contar que não conseguem esconder o rabo da hipocrisia: o lado que hoje pede pela “impunidade zero” é o mesmo que votou em Lula e fez silêncio sobre a soltura de Cabral. Acham mesmo que tem credibilidade? Ver um Gilmar Mendes condenando as manifestações e criticando “prevaricadores” é de um escárnio desmedido, não dá pra levar a sério. Se há realmente o desejo de se pacificar o país, que todos comecemos a baixar a poeira e apostar na lucidez AGORA. Depois não adiantará.
O segundo erro é o desejo de responsabilizar Bolsonaro a todo custo. Sei que é difícil acreditar, mas o povo já não está na rua por ele há tempos. Ainda que o ex-presidente seja um bom bode expiatório para Lula e o PT, se houvesse um mínimo de inteligência em nossos serviços de informação, jamais começariam a cuidar do assunto pelo seu nome. Trata-se de erro crasso de análise. Para cada vídeo de Bolsonaro criticando o processo eleitoral há pelo menos uns dez em que ele condena quebradeiras e afirma jogar dentro das quatro linhas. Isto é facílimo de ser verificado. Até mesmo o ex-ministro do supremo Marco Aurélio Mello o isentou de culpa ao analisar os eventos de ontem, apenas falando o óbvio.
A verdade é que Bolsonaro está fora do jogo pelo menos desde o fim da eleição. Seu silêncio desmotivou grande parte dos seus eleitores, sua inação foi encarada como fraqueza e covardia por uma grande parte dos apoiadores, e sua debandada para os Estados Unidos desmobilizou milhares. Dentro dos grupos de direita são poucos os que ainda o defendem de forma aberta. E ontem mesmo Bolsonaro se posicionou contra o que aconteceu. O povo não está na rua por ele ou por ordens dele. Centrar fogo em Bolsonaro hoje pode ter efeito adverso: redimi-lo aos olhos do seu eleitorado. De mero perdedor ele pode transformar-se em mártir. Toda força do sistema usada contra ele apenas comprovará que ele sempre teve razão sobre este mesmo sistema, da mancomunação entre PT e Xandão. Se a esquerda apostar nisso poderá fazer um imenso favor à direita ao recuperar seu principal candidato. Perseguir Bolsonaro, não tenham dúvidas, apenas a aumentará a polarização.
O terceiro erro é procurar por “lideranças” e por “financiadores” dos movimentos. Desculpe estragar a festa e a esperança, mas desistam: não existem. Até mesmo a direita os procura. Se encontrarem, talvez facilitem o serviço e os próprios manifestantes agradecerão a ajuda. Sei que é difícil para um esquerdista acreditar que exista um povo que vai à manifestações sem interesses financeiros, sem lideranças, sem balões de sindicatos, sem nada, apenas com a cara e a coragem, mas é exatamente isso o que acontece: as pessoas estão ali porque querem e estão indignadas, não porque foram mandadas.
Impressionante a esquerda não ter entendido isso até hoje, uma incapacidade. O movimento conservador brasileiro nas ruas sempre foi orgânico, descentralizado, sem representantes. Trata-se apenas de povo pelo povo mesmo e, confesso, pessoalmente acho que é o melhor que já tivemos neste país. Não sou um democrata de fachada. Jamais me verão condenando povo nas ruas e quem o faz tem meu desprezo eterno. Somente a imprensa míope e seus leitores ainda mais míopes ainda não perceberam que estes movimentos carecem de estratégia e organização. Apostar na existência de grandes esquemas, planos de violência, de ataques terroristas, é apenas medir o outro pela própria régua.
As manifestações de esquerda são esquematizadas. As de direita não. Vão fazer o quê a partir de agora? Tratar donas de casa que alugaram vans para ir à Brasília como financiadoras do terrorismo? Chamar donos de bares que enviaram pix para acampamentos como antidemocratas? Tudo isso configura “esquema”? Lembremos do fiasco de Xandão quando vazaram os áudios dos empresários “bolsonaristas”. Não encontraram nada, não deu em nada, por um motivo só: não havia mesmo nada. Esta eterna vontade de achar chifre em cavalo sempre acaba mal. Se insistirem neste caminho podem acabar gerando ainda mais injustiças e apenas comprovará, mais uma vez, que o grande sistema realmente existe e é perverso. Darão um caminhão de milho para um bode famélico.
O quarto erro talvez seja o principal e o mais complicado de todos, uma ferida que precisará ser tocada, não há jeito: está na hora da imprensa começar a questionar o STF e as intenções autoritárias do PT. Sinto dizer, mas se quiserem realmente pacificar o país, terão que tirar este elefante da sala antes. Continuar ignorando a imensa parcela de culpa dos nossos supremos togados nesta comédia de erros é desserviço jornalístico. É acreditar que pelo menos 70 milhões de brasileiros que não votaram em Lula são idiotas. O ativismo judicial está comendo solto pelo menos desde a soltura do Al Capone de São Bernardo e ISTO SIM é o que está fazendo as pessoas irem às ruas hoje.
Também é combustível para as manifestações a forma como o TSE conduziu todo o processo, enviesada e totalmente parcial. Algo facílimo de comprovar em qualquer clipping honesto das notícias durante as eleições. Notem bem: não questiono urnas aqui, não cobro código-fonte, nada disso. Mas simplesmente a condução do processo. Negar que foi enviesado não mudará o fato. De nada adianta Xandão comprar canequinha de “herói da democracia”, ser aplaudido por engravatados gordos dentro de gabinetes, ganhar capas de revistas pagas, se o povo também não enxergar este heroísmo. Ninguém comprará um Super-Homem com cara e atitude de Lex Luthor.
Como se isto não fosse o suficiente, nosso Supremo ainda tem uma corte de marias-madalenas que só pioram a sensação de injustiça geral. Gente como Luiz “Perdeu, Mané” Barroso e Carmem “Censura-do-Bem” Lúcia não ajudaram em nada neste processo e só aumentam a sensação de descalabro. A pichação na estátua da justiça ontem foi muito clara: não confiamos e não gostamos de vocês. O país jamais será pacificado enquanto a imprensa passar pano para o ativismo, o elitismo, e os desmandos da nossa corte. Tentar calar a verdade à força não a fará deixar de existir.
Como bem disse a filósofa Ayn Rand, bem lembrada por Roberto Motta ontem, você pode desprezar a realidade, mas não vai conseguir fugir das consequências de desprezar a realidade. Infelizmente, desprezar os fatos é uma prática menor que a mídia brasileira conseguiu transformar em arte.
Confira o texto aqui.