O Programa de Atletas de Alto Rendimento (PAAR) nas Forças Armadas Brasileiras completou dezesseis anos em 2024, celebrando 11 das 20 medalhas do Brasil nos Jogos Olímpicos de Paris (55%). Este resultado ratifica uma trajetória vitoriosa e de enorme importância nos resultados do esporte de alto rendimento do Brasil em Jogos Olímpicos e Mundiais Militares nos últimos 16 anos. O PAAR visa desenvolver o esporte nacional e garantir um apoio fundamental para atletas de alto rendimento, pois, além do salário, eles têm direito a benefícios como atendimento de saúde, alimentação, fisioterapia e acesso às mais modernas instalações para treinamento. Sem falar nas viagens para competir nos Jogos Militares internacionais e nacionais. Graças ao sucesso desse programa, o Brasil tem se projetado no cenário do esporte militar, se colocando sempre entre os três melhores dos Jogos Mundiais Militares. Isso iniciou logo depois do PAAR no Rio, em 2011, em que ficamos em primeiro lugar com 114 medalhas.
E pensar que tudo começou com uma conversa informal em junho de 2007, no Rio de Janeiro, entre Djan Madruga, o Secretário Nacional de Esportes de Alto Rendimento, e o então presidente da CDMB, o Brigadeiro Luís Pinto Machado, durante o Campeonato Brasileiro de Judô das Forças Armadas, que acontecia no CEFAN. Eles não imaginavam que fossem deslanchar um dos mais importantes programas de apoio ao esporte no Brasil, que provocaria tamanha mudança nos quadros de medalhas nos próximos ciclos olímpicos.
Na conversa com o Brigadeiro Pinto Machado, Djan Madruga relatou que os nadadores de alto rendimento europeus na sua época de atleta – na década de 1970 – já estavam engajados nas Forças Armadas dos seus países. Ou seja, estávamos então quase quatro décadas atrasados em relação ao resto do mundo. Ao ouvir esse relato, o presidente da CDMB gostou da sugestão e propôs que tentassem, juntos, viabilizar um projeto dentro do governo federal, pois ambos estavam em situações que facultavam essa iniciativa: um pelo Ministério do Esporte e outro no Ministério da Defesa.
No início, foi tudo muito difícil, pois não havia orçamento para isso, nem projeto aprovado em qualquer área federal. Não havia rubricas e nenhum programa se encaixava para que isso pudesse acontecer formalmente. O que tentaram de pronto foi usar um “refugo do bolsa-atleta” dentro da SNEAR do ME, buscando atletas que não seriam contemplados com a bolsa, em função da procura ser maior do que o número de vagas disponíveis, para tentar engajá-los nas Forças Armadas. Isso não funcionou bem no início, pois não era um programa conhecido e houve pouquíssima adesão. Partiram então para a Marinha do Brasil, visto que ela já fazia a contratação de profissionais de diversas áreas por oito anos na graduação de cabo. A ideia era tentar incorporar os atletas da mesma forma. Daí, foram conversar com o Almirante de Esquadra (FN) Álvaro Augusto Dias Monteiro, que era Comandante Geral do Corpo de Fuzileiros Navais, para lhe apresentar a ideia do engajamento de atletas militares de alto rendimento. Ele imediatamente abraçou a ideia, conseguindo a autorização do então Comandante da Marinha, o Almirante de Esquadra Júlio Soares de Moura Neto. Com isso, no ano de 2008, houve a incorporação de oitenta atletas de alto rendimento na Marinha.
No ano seguinte, o presidente da CDE, General Sérgio Carneiro, convenceu o Comandante do Exército, General Enzo, a incorporar noventa atletas no Exército, o que garantiu a formalização do programa no MD. Por fim, a Aeronáutica também aderiu no ano de 2014, incorporando atletas de alto rendimento em modalidades como ciclismo, basquete, handebol, vôlei de praia, tiro com arco, dentre outros.
Todo esse processo demandou muito tempo e trabalho de diversas pessoas muito dedicadas, e os resultados foram espetaculares. Basta ver que, já nos Jogos Mundiais Militares realizados no Rio de Janeiro, em 2011, o Brasil sagrou-se campeão, contando 114 medalhas. Depois, nos Jogos Mundiais na Coreia do Sul, em 2015, fomos vice-campeões, com oitenta e quatro medalhas, demonstrando a evolução. Basta comparar com os Jogos da Índia, no ano da criação do PAAR, em 2007, onde ficamos em 31º lugar, com apenas três medalhas. Com isso, o Brasil continua brilhando nos Jogos Mundiais Militares, onde antes não passávamos de coadjuvantes, para sermos protagonistas, nos colocando agora entre as top-potências desportivas militares do planeta.
Isso também já repercutiu nas Olimpíadas. Em Londres, em 2012, das dezessete medalhas conquistadas, cinco (29%) foram por atletas incorporados nas Forças Armadas. Nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, das dezenove medalhas conquistadas, 13 (ou 68% delas) foram por atletas do PAAR. Nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020, das vinte e uma medalhas conquistadas, 8 (ou 38% delas) foram por atletas do PAAR. E por fim, nos Jogos Olímpicos de Paris, 11 das 20 medalhas do Brasil, ou 55%, foram de atletas do PAAR.
Isso é um orgulho para todos nós, brasileiros, que, apesar de termos começado tarde nesse programa, ao nos compararmos às demais potências do planeta, ganhamos espaço, chegando rapidamente ao topo. O PAAR se transformou, talvez, no maior legado para o esporte de alto rendimento no Brasil, graças à visão das Forças Armadas e de alguns abnegados visionários, dezesseis anos atrás.
Por Djan Madruga
Medalhista de bronze nos Jogos Olímpicos de Moscou-1980
Mestre em Educação Física pela Universidade de Indiana
Criador do PAAR