No dia 19 de abril de 1648, a história do Brasil registra uma relevante vitória das
nossas forças contra o invasor holandês do território pernambucano, na que ficou
conhecida como a primeira Batalha dos Montes Guararapes.
Vinte e quatro anos antes, em 8 de maio de 1624, os batavos haviam invadido e
conquistado Salvador. A reação luso-brasileira, apoiada pela população baiana, não se
fez esperar. Militarmente inferiorizadas, nossas forças reagiram com uma forte guerra
de emboscadas. Portugal, com o apoio da Espanha, mandou ao Brasil uma esquadra de
52 navios e 12.000 soldados e marinheiros – portugueses e espanhóis – que expulsaram
os holandeses em 30 de abril de 1625, menos de um ano após início da ocupação.
Cinco anos após sua derrota na Bahia, os holandeses fizeram uma nova tentativa de
ocupar o nordeste brasileiro. Em 15 de fevereiro de 1630, a esquadra do Almirante
Hendrick Loncq, formada por 50 navios e 7.000 homens da Companhia das Índias
Ocidentais, bombardeou a cidade do Recife. Os pernambucanos resistiram bravamente
ao invasor. Matias de Albuquerque proclamou para toda a Capitania a disposição de
lutar até a morte. O inimigo, após conquistar Recife e Olinda, tratou de fortificar suas
posições. Como na Bahia, nossa resistência era baseada, principalmente, em
emboscadas. Hoje, diríamos que eram ações de comandos e forças especiais.
Construímos, em local estratégico, como baluarte para impedir a penetração do
adversário para o interior, a fortificação do Arraial do Bom Jesus, que resistiu por cinco
anos às investidas dos batavos.
No dia 23 de maio de 1645, dezoito líderes da Insurreição Pernambucana assinaram
um Termo de Compromisso, onde se destaca o uso, pela primeira vez, da palavra
pátria, no seu sentido atual. No documento há, também, providências que hoje seriam
consideradas como mobilização de Reservas:
“Nós abaixo assinados nos conjuramos e prometemos em serviço da
liberdade, não faltar a todo o tempo que for necessário, com toda ajuda de
fazendas e de pessoas, contra qualquer inimigo, em restauração da nossa pátria;
para o que nos obrigamos a manter todo o segredo que nisto convém…”
Estava criado o sentimento da existência nacional brasileira, que iria se fortalecer ao
longo dos próximos dois séculos, até a Independência em 1822. Paralelamente, surgia,
consolidado, o exército de patriotas, formado pela fusão das três etnias – branca, negra
e índia – com suas miscigenações. Nascia o Exército Brasileiro, democracia multirracial,
sem discriminações nem preconceitos, sem cotas, numa pluralidade étnica e social
unida pela alma de combatente do nosso soldado. Graças a novas tropas recebidas
pelos batavos, os combates se prolongaram até 1648. Em março, os holandeses –
sitiados em Recife – aportaram uma esquadra com 41 navios, grande quantidade de
víveres e 6.000 soldados. Fortalecido, o inimigo comandado pelo tenente-general Von
Schkoppe, decidiu romper o cerco e progredir em direção à Bahia. Assim, em 18 de
abril, o exército holandês com 7.400 homens marchou no sentido Barreta-Guararapes,
tendo como objetivo final apoderar-se do cabo de Santo Agostinho. O exército
patriota, com 2.200 homens, deslocou-se para interceptar o invasor. O sargento-mor
Antônio Dias Cardoso, como “soldado mais prático e experiente” sugeriu que o melhor
campo de batalha seria o Boqueirão dos Guararapes. Na manhã de 19 de abril,
primeiro domingo após a páscoa (pascoela), dia de Nossa Senhora dos Prazeres, Dias
Cardoso, no comando de 200 homens, investiu contra a vanguarda inimiga para, em
seguida, retrair em direção ao interior do Boqueirão onde o restante do nosso exército
estava escondido, pronto para a batalha. Ao comando de “ás de espadas” os patriotas
se lançaram sobre o inimigo. O terço (regimento) de Pernambuco, comandado por
João Fernandes Vieira, auxiliado por Dias Cardoso, rompeu o inimigo nos alagados; os
índios de Felipe Camarão assaltaram a ala direita dos holandeses; o terço dos negros
de Henrique Dias atacou a ala esquerda, ficando as tropas de Vidal de Negreiros em
reserva. Os batavos contra-atacaram com suas reservas de 1.200 homens,
enquadrando o terço de Henrique Dias. Os patriotas, habilmente, lançaram a reserva
de Vidal de Negreiros no momento adequado. Foram 4 horas de confronto, entre
alagados e morros. Ao final, o exército holandês, derrotado, retirou-se com pesadas
perdas – 1.038 combatentes entre mortos e feridos. Já os patriotas, tiveram 84 mortos
e 400 feridos. Menos de um ano depois, em 19 de fevereiro de 1649, patriotas e
holandeses enfrentaram-se na segunda e derradeira Batalha dos Guararapes.
Novamente derrotados, os batavos fugiram para Recife, ainda sob o seu controle,
deixando para trás 927 mortos, 89 feridos e 428 prisioneiros, contra 45 patriotas
mortos e 245 aprisionados. A 14 de janeiro de 1654, o exército patriota atacou o
último reduto holandês em Recife. Após 10 dias de combates, Recife foi reconquistada.
No dia 26 de janeiro, na Campina da Taborda, os holandeses assinaram a rendição e
retiraram todas as suas forças no Brasil. As vitórias nas Batalhas dos Guararapes
uniram, no nascedouro, os conceitos de Pátria e de Exército.
Decreto presidencial, de 24 de março de 1994, consagrou o dia 19 de abril, data da
vitória do exército de patriotas na primeira Batalha dos Guararapes, como DIA DO
EXÉRCITO BRASILEIRO.
Decorridos 376 anos da memorável vitória de Guararapes, é oportuno mencionar o
sacrifício dos nossos militares do passado na manutenção da segurança, soberania e
liberdade da nação e do povo brasileiro. Nas lutas contra o invasor, nas guerras da
Independência e nas inúmeras campanhas que a história registra nessa longa e
gloriosa jornada, o Exército Brasileiro jamais nos faltou. Ao reverso, no passado
sempre cumpriu suas missões e participou, ativamente, dos fatos e episódios mais
relevantes em que a Pátria, o Povo e a Liberdade estiveram sob agressões ou ameaças.
Nesta data gloriosa, vale lembrar, pela relevância, breves manifestações de ilustres
chefes militares de ontem:
“…Custa ser Caxias, sim, quando a violência pode ameaçar a segurança e a paz social,
enaltecer e favorecer ladinos, entronizar espertos e constranger virtuosos cidadãos.
Porque a violência manifesta-se, muitas vezes, sem o desembainhar de sabres. Ela vem
sob a cobertura de causas nobres, em cujo abrigo muitos pregam e praticam a
agressão à lei e à ordem constituída, ao arrepio dos interesses nacionais. Vem, ainda,
no abuso da força, na utilização da palavra que dilapida e injuria, na deletéria
corrupção dos padrões éticos, na destruição dos laços sagrados de cultura,
nacionalidade e tradição, na cômoda atitude da ignorância contemplativa e não
comprometedora que perverte e anestesia a sociedade.” (Gen Ex GLEUBER Vieira, Cmt
EB, 2001);
“Prontidão é a palavra-chave. Sabemos que, sempre que houver perigo e a situação o
exigir, seremos chamados.” (Gen Ex ENZO Martins Peri, Cmt EB, 2014) – grifo do autor.
“Confirmei, nessas ocasiões, o valor do soldado brasileiro e a sabedoria do postulado
que cultivei incansavelmente: ao subordinado devemos, antes de tudo, respeito e
lealdade. Jamais violei esses princípios. Orgulho-me de poder encará-los, desde sempre,
com a cabeça erguida, olhos nos olhos… Não vou agradecer ao Exército pelo muito que
me proporcionou. Mantive com a Instituição uma relação de amor intenso, sem
máculas, uma troca de energia e conhecimento, desinteressada e produtiva… Fui
aconselhado, algumas vezes, a ser menos impetuoso e mais tolerante. Preferi, como
Cervantes, seguir pela estreita senda da Cavalaria, e, como ele, desprezar certas
honrarias para não abdicar de meus valores…”. (Gen Ex Augusto HELENO Ribeiro
Pereira, despedida da Ativa, 2011).
“Sigam-me os que forem brasileiros.” (Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de
Caxias), Patrono do EB, em 1868, num momento dramático da Guerra do Paraguai, a
Batalha de Itororó. Era vital para as tropas aliadas atravessar o Rio Itororó, mas os
paraguaios infligiam numerosas baixas aos brasileiros. Caxias, então com 65 anos,
desembainhou a espada, gritou a frase com entusiasmo descomunal, tomou a
dianteira, atravessou a ponte, acompanhado por toda a tropa, e venceu a batalha.
Parabéns ao Exército Brasileiro e aos seus valorosos soldados
“Jamais nos transformaremos em reis sem espadas, como na lenda Céltica do
Excalibur. As forças vivas da nação, UNIDAS, saberão defender a PÁTRIA, a FAMÍLIA e a
LIBERDADE. DEUS está conosco” (mensagem do autor, 84 anos, professor, historiador,
oficial da reserva do Exército).